Monday, April 25, 2011

Games arte

Tenho discussões homéricas com um amigo meu mais velho que perdeu o bonde da era do VideoGame. São uma mídia como o Cinema, Música, é um tipo de arte? Pode ser? Tem valor estético, intelectual, artístico, educacional?
Eu acredito que tem seu valor como qualquer um desses outros meios mas que por algumas características intrínsecas suas qualidades são mais difíceis de destilar que nas outras formas de arte "maiores" ou "tradicionais". O principal fator contra na minha opinião é a íntima ligação entre videogames e tecnologia. Podemos imaginar que um inteligente e criativo leitor, após centenas de livros, pode aprender o suficiente para que se torne um escritor de sucesso sem nunca ter lido um livro sobre a arte do romance. As ferramentas para escrever um livro estão ali a sua disposição e, com alguma sorte e empenho, ele pode até produzir um best-seller. Isso é verdade para artes gráficas e em menor grau para o cinema e a música (estes requerem alguma tecnologia e/ou teoria para serem bem sucedidas). Já um gamer que passou 6 horas por dia durante 5 anos não tem a capacidade de fazer um game best-seller. Com algum estudo ele quem sabe possa fazer um jogo Indie bem sucedido, mas nunca alcançara o grande público sem alguns milhões de doláres. As grandes empresas de games não tem interesse em fazer obras de arte assim como as empresas de cinema não tem esse interesse.
Ok, vamos escancarar um fato, jogos realmente bons a ponto de poderem ser considerados arte são raros, muito raros. Ao ler uma crítica de um jogo com nota 9 e 10 nesses sites de games eles citam como o jogo é balanceado, divertido e bonito. Ok, isso é importante, mas não o torna realmente bom. Essas características me parecem um sudoku com gráficos bonitos, serve para passar o tempo. Definir o que é arte é sempre difícil, mas posso atestar que precisa causar um impacto no espectador, fazer pensar e/ou emocionar.
Em meio ao mar de cópias de Counter-Strike, tentativas de emular GTA e cópias de God of War as vezes surgem alguns jogos que merecem uma atenção. Os melhores jogos que joguei, afinal de contas, foram super-produções de milhões de dólares que tiveram alguma força criativa por trás que conseguiu unir o útil (lucro) ao agradável (arte).
A possibilidade de você atuar na história, de não só acompanhar aquele personagem como também vivê-lo, é muito forte.
Existe uma organização que acredita no poder de transformação dos jogos:
http://www.gamesforchange.org/
Posso não concordar com eles mas é uma tentativa de aproveitar o potencial dos games para algo produtivo. É um começo.
Falta uma empresa alternativa como a Participant que invista em videogames que vão além do padrão.

8 comments:

Wilson said...

Considerar um game como arte é algo complicado, não pode ser generalizado, mesmo porque nem todos os filmes, musicas e livros são. Muito pelo contrário, alguns passam a ser uma adversidade ao sentido de arte. O que realmente importa é o poder individual da obra, desconsiderando a origem.
Sobre o fato de produção de jogos, concordo, jogadores experientes, mesmos os profissionais, não possuem as ferramentas ou conhecimentos necessários para produzir um jogo de qualidade, no máximo eles podem sugerir boas idéias ou ter uma boa visão do seu jogo ideal, como qualquer público alvo especializado (pra não dizer viciado). Digo por experiência própria, pois quando fiz um curso técnico de produção de jogos percebi o quanto desconhecia sobre o mercado, muito diferente do mar de rosas que muitos acreditam ser.
Uma outra coisa que os games diferem das outras formas de arte é no público alvo. Jogos são feitos geralmente para crianças, pois é neste escopo em que o dinheiro se concentra. São raros os jogos que possuam longas conversações, táticas bem elaboradas e uma história envolvente, porque crianças e adolescentes não querem isto. Eles querem brincar de "Smash Buttons" e terem a ilusão que são bons nisto. Vemos isto acontecendo em vários exemplos;
World Of Warcraft: Este jogo possui seus nove anos, e durante este tempo o jogo se modificou muito. Nos seus primeiros anos, o jogo era desafiador, com muitas conversações, historicamente envolvente com lindas paisagens e possibilidades de exploração, e pouco a pouco, o jogo foi se tornando mais dinâmico, combates foram simplificados, a história e conversações podem agora ser cortadas. Tudo isso porque a empresa que o criou, como qualquer outra, visa apenas uma coisa, lucro.
Dragon Age: Este clássico, como seus irmãos, Mass Effect e Dead Space, feitos pela mesma empresa, quase que na mesma época, e todos estes três títulos possuíam muito mais conteúdo intelectual e emocional que suas continuações, nas quais se tornaram jogos vazios de "acerte o alvo e ganhe prêmios". Não por mera coincidência, pois nos anos que os primeiros destas séries foram feitos o X-Box era um jogo para americanos mais velhos, enquanto o Nintendo Cube dominava o mercado infantil. Contudo com a queda de vendas da Nintendo, se abriu o mercado para as outras empresas de consoles.
Resident Evil, Silent Hill: Grandes clássicos de terror que com o passar dos anos se tornaram basicamente jogos de ação "Shooter", será isso por acaso? Não, pois muitos dos pais não compram jogos para seus os filhos com o intuito de vê-los chorarem, desta forma sobrou o escopo dos adolescentes testosterona e estes títulos se modificaram.
Já as grandes produtoras de livros também publicam livros para crianças e adolescentes, contudo, também não passam dos dedos das mãos títulos realmente bons para este escopo para se tornarem legitimas obras de arte. Pois as produtoras também visam lucros, mas não financiam equipes enormes para a produção de seus livros (pelo menos na maioria deles), diferentes das grandes produtoras de jogos. O mesmo pode ser considerado para os filmes e música.
Mas por favor não confundam, um jogo ser bonito, com ótimos gráficos e jogablidade não o tornam uma obra de arte, mesmo tendo ótimos artistas visuais por trás de sua produção. O que realmente importa numa obra de arte é o seu conteúdo sentimental, e não a aparência.

Desculpem quaisquer erros de português.

Unknown said...
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Wilson said...

Realmente, estamos passando por uma nova época, esta se formando uma cultura de gamers, e toda cultura é composta por arte. Jogadores que apreciam arte existem a quanto tempo? Duas, Talvez três gerações no máximo, até então jogos eletronicos eram meros jogos de tabuleiro na TV.
Em alguns países certos jogos são considerados esportes nacionais, como StarCraft na Coréia. Onde as as partidas são emocionantes e com um nível tático muito elevado.

Hari Seldon said...

Definir o que é arte é complicado, como eu já havia observado. Eu acho que cada meio pode produzir obras com poder de transformação cultural e social mas existe uma discussão, mesmo entre intelectuais, se games podem produzir arte e é isso que estou falando aqui. E com certeza em nenhum momento eu disse que qualquer livro ou música é arte, apenas que não há dúvida de que arte pode surgir nesse formato.

Já quanto a sua teoria de que os games estejam ficando mais "teen" eu tenho uma contra-teoria que acredito ser mais completa.
Existem vários fatores para isso que vc observa, primeiro, concordo com vc que as empresas podem fazer jogos mais simples para tentar abranger um público maior mas este efeito ocorre dos dois lados, antigamente (10 anos atrás) games ainda eram coisas de adolescentes e crianças, os poucos jogos "adultos" eram para uma minoria de 25-35 anos que jogavam. Hoje o público 15-25 anos cresceu e continuou a levar os games para o centro de suas famílias, não raro games são considerados tão essenciais quanto dvd-players para os homens de família de hoje. O mercado mudou, e com a expansão do mercado 25-35 anos paradoxalmente os jogos ficaram mais simples para atrair um mercado maior de jogadores casuais.
Segundo, séries como Silent Hill e Resident Evil não começaram como Blockbusters, mas com a possibilidade de vender mais é difícil manter a qualidade, ainda mais quando manter a equipe original, ou aumentar contratando pessoas de mesmo nível é difícil.
Terceiro, será que não existe uma certa nostalgia de player veterano? Hoje eu espero mais de qualquer jogo justamente porque já joguei muitos jogos bons.

Concordo que a indústria de livros e até a fonográfica podem funcionar como projetos solo ou quasi-solo, mas a indústria cinematográfica é parecida com a indústria de games no que toca a necessidade de uma equipe e de tecnologias. E o cinema consegue fazer arte mesmo dentro do mainstream, eu acredito que é um problema de cultura.

Gráficos bons não tem nada a ver com arte e sim proeza técnica. Existem sim jogos que têm gráficos com qualidade artística (como o "okami" para ps2 ou "rez") mas são muito raros e geralmente não é o foco dos designers fazerem algo diferente.

O fenômeno Starcraft como esporte na Coréia não tem nada a ver com arte tb. É curioso, mas como eu disse me motiva tanto quanto "quem consegue jogar uma pedra mais longe".

Wilson said...

Bem definitivamente jogos podem criar arte, a partir do instante que uma cultura se associa à uma prática, principalmente na área do laser, arte é um produto certo, por este motivo citei a Coréia, mesmo para algumas pessoas isto possa se apresentar de forma banal, é um ótimo exemplo de relevância cultural.
A sua contra teoria me fez repensar algumas coisas. Realmente há um envelhecimento do mercado de dez anos atrás, aumentando o mercado casual e a "necessidade" de possuir consoles. Mas agora lanço uma idéia, jogos casuais tem a possibilidade de serem considerados arte?

Sobre o fato manter equipes de qualidade, isso depende do mercado, e se ele está favorável bancar deixa de ser um problema, contudo nem tudo neste mundo é dinheiro, equipes podem se desvincular por discordar em aspectos na produção do jogo, dentre os quais caminhos devem serem tomados, como o que aconteceu com Nobuo Uematsu na série Final Fantasy, ou simplesmente uma doença como na produção do Final Fantasy 12. Isso acontece muito produção de filmes, nas quais algumas continuidades mudam de direção/produção parecendo que estes novos elementos arruinaram com a série. Realmente é uma grande dificuldade manter equipes, mas é realmente imprescindível ter toda equipe original para algo continuar com o mesmo estilo? Ou a maioria destas mudanças serão feitas propositalmente para entrar em um mercado mais promissor?
Definitivamente existem jogadores veteranos saudosistas e/ou idealistas. Sendo muitos deles frustrados, por não recriarem a roda novamente, por não encontrarem um jogo que os fizessem sentir aquela empolgação de virar as noites em claro. Mas isto me faz pensar, será que estes jogadores veteranos que esperam um grande título simplesmente não perceberam que perderam na verdade o interesse pelos jogos, nos quais continuam com o mesmo nível de complexidade?

Wilson said...

Sobre a pergunta de jogos casuais serem arte, arte é divertimento? arte é sentimento, pois as pessoas que jogam casualmente sentem prazer, jogos casuais podem ser engraçados, ou inspirar outro sentimento mesmo sendo retardamente simples. Claro que Campo minado nunca vai ser arte, mas para alguns titulos mais elaborados que este podem sim para grupos seletos de indivíduos.
Você disse que não, mas já se deu conta do impácto de jogos casuais como Mario repercutiram na sociedade? O jogo é simples, pule em 90% de tudo que encontrar no caminho e salve a princesa.

Wilson said...

Na Wikipédia:

Arte digital ou arte de computador é aquela produzida em ambiente gráfico computacional. Utiliza-se de processos digitais e virtuais. Inclui experiências com net arte, web arte, vídeo-arte, etc. Tem o objetivo de dar vida virtual as coisas e mostrar que a arte não é feita só a mão. Existem diversas categorias de arte digital tais como pintura digital, gravura digital, programas de modelação 3D, edição de fotografias e imagens, animação, entre outros. Os resultados podem ser apreciados em impressões em papéis especiais ou no próprio ambiente gráfico computacional. Vários artistas usam estas técnicas. Ao contrário dos meios tradicionais, o trabalho é produzido por meios digitais. A apreciação da obra de arte pode ser feita nos ambientes digitais ou em mídias tradicionais. Existem diversas comunidades virtuais voltadas à divulgação da Arte Digital, entre elas, Deviantart,CGsociety e Cgarchitect.


Assim eu vejo os games dentro da arte digital, só que com a possibilidade de interatividade.

Hari Seldon said...

Acho engraçado que ao falar dos jogadores saudosistas vc fale deles na terceira pessoa... :)
Quanto aos jogos casuais serem arte (como mario) eu discordo. Arte para ser arte precisa causar um impacto, mas isso não é suficiente e sim necessário. Com certeza Mario causou um impacto gigante na cultura, mas isso não é o suficiente para que eu o considere arte. Mario também não é um bom exemplo porque ele está no limite de ser considerado um jogo casual simples, porque além do design inovador e jogabilidade perfeita ele tem uma atmosfera perfeita. A jogabilidade do Mario Galaxy é uma das coisas mais originais e fantásticas que já vi! Mas essa discussão não cabe aqui. Pra mim tem mais arte no campo minado que num jogo de corrida/luta/futebol. Jogos casuais podem ser mais que simplesmente sudoku, veja Metal Gear ou Vagrant Story. Mas a grande maioria dos jogos casuais são "campo minado".

O que o texto da wikipédia chama de arte digital não tem NADA a ver com videogames, arte digital como colocada ali é artes gráficas feita usando tecnologia, não tem NADA, absolutamente NADA a ver com videogames. A definição de games não é arte gráfica digital + interatividade. Um jogo de tabuleiro (ex. Banco Imobiliário) tem mais a ver com games do que este artigo sobre arte digital. Forçou a barra agora.