Sunday, August 20, 2006

Terror em Silent Hill


Baseado na série de videogames de horror "Silent Hill".

Rose Da Silva (Radha Mitchel) e Christopher da Silva(Sean Bean) tem uma filha adotiva com problemas de sonambulismo, nesse estado Sharon (Jodelle Ferland) chega ao ponto de quase sofrer acidentes fatais e grita "Silent Hill, Silent Hill". Como toda boa mãe faria ela carrega a filha em uma viagem noturna até uma arrepiante cidade fantasma interditada que tem esse nome, tentando resolver os problemas de sua filha.
Logo ela se separa de sua filha numa ensandecida perseguição policial seguida de acidente em que se vê perdida em uma cidade abandonada que de tempos em tempos soa um alarme ensurdecedor seguida de escuridão total e ataque de uma variedade de monstros de aspectos nojentos. Para encurtar tudo isso tem haver com um tipo de ritual religioso realizado na cidade anos antes, com um incêndio, caça as bruxas, o demônio, meninas assustadoras e monstros do inferno.
Poderia continuar contando a história até o final, inclusive em detalhes, mas não quero martirizá-los duas vezes caso também queira ir ao cinema e se você gosta de filmes de terror não é uma idéia tão ruim.
Com certeza o maior problema de "Terror em Silent Hill" está no roteiro entupido de buracos, ou melhor, rombos. Entendo que é difícil adaptar a história complexa de um videogame de diversas horas e ainda se manter original, mas a impressão que tenho é que o roteirista Roger Avary (Pulp Fiction) nem tentou, desistiu de tentar escrever algo decente e pegou alguns momentos chaves do jogo, entrelaçou de forma artificial e acabou. O que é realmente uma pena, pois ele é geralmente muito bom, mas parece que estava dormindo ao escrever este roteiro. Assim acerta nos pontos em que copia descaradamente o jogo, mas estas são poucas e em todas as outras tramas novas enfiadas para fazer render mais alguns minutos erra miseravelmente.
Achava que o diretor francês Christophe Gans (Pacto dos Lobos) era bom, mas na verdade seus filmes mostram que tem uma obsessão insana pelo visual, fazendo-os serem interessantes esteticamente, mas com histórias beirando ao Trash. As cenas são em geral bem feitas e visualmente impactantes e claustrofóbicas, mas totalmente desconexas, ligadas de um ponto ao outro pior do que fases de um videogame. Funcionam sozinhas, ao juntar é que se vê o problema. Em uma cena ela tira uma peça da boca de um corpo torturado em um banheiro, o motivo pelo qual ela faz isso foge a compreensão, mas não tanto como sua fala depois de constatar que era um pedaço de chaveiro de hotel, “minha filha deve estar no hotel”, de onde ela tirou isso? Irritou-me profundamente o modo como os produtores subestimam a inteligência do espectador, como quando Rose chega a igreja que lhe parece estranhamente familiar e o diretor se sente obrigado em nos mostrar onde vimos a igreja antes como se fossemos ignorantes demais pra lembrar por nós mesmos. Ou em todas as cenas em que aparecem os monstros somos preparados por uma sirene e Rose sempre é salva não por seus méritos, mas pelo simples desaparecimento de seus perseguidores. O diretor nos acha tão idiotas que chega a ponto de repetir falas para nós lembrar de algo dito minutos antes. O filme não tem ritmo e a ótima trilha sonora emprestada do jogo é falha em dar atmosfera, pois é tristemente mal utilizada durante a projeção.
Além dos principais temos Cybil (Laurie Holden), uma policial que pouco chama a atenção além de ter uma morte grotesca e mostrada com detalhes além da conta. Dahlia (Deborah Kara Unger), uma louca que andarilha pela cidade assustando personagens de filme de terror, até que é bem interpretada, mas é difícil dizer mais que isto, pois o roteiro a qual ela é obrigada a proferir é por demais fraco. Christabella (Alice Krige) é a vilã e é tão irritante que torci para que morresse logo, não porque criei raiva pelas ações más da personagem, mas sim porque não agüentava mais ver aquela mulher empacando a trama. Infelizmente qualquer prazer que poderia sentir ao ver seu destino final foi revertido frente ao modo excessivamente chocante em que é mostrado. O policial local Thomas Gucci (Kim Coates) não tem razão de estar no filme e parece não envelhecer, pois aparece em um flashback de 30 anos praticamente inalterado. Na verdade toda a trama em que ele está inserido, a qual segue Chris na procura da filha, poderia facilmente ser descartada, pois não acrescenta absolutamente nada, apenas serve para nos distrair dos perigos da cidade e ainda por cima quebra o andamento da já desgastada trama. Este personagem é tão descartável que desaparece perto do final e nem sentimos sua falta. Isso é tão verdade que todas as cenas foram adicionadas ao roteiro depois, pois o original continha só mulheres. Apenas para contar no registro temos Anna (Tanya Allen), uma sobrevivente da cidade que está lá exclusivamente para morrer de forma inacreditavelmente chocante.
Os personagens são mal construídos sendo unidimensionais e muito mal interpretados por quase todos os atores, que parecem saídos de uma produção como "A Invasão das Aranhas Marcianas". Esse clima de filme "B" não é intencional e muito menos uma homenagem, pois se leva a sério.
Quem sabe ai esteja a minha decepção. Esperava muito mais desse suspense do que de filmes obviamente estúpidos como são quase todas as produções de terror adolescente, onde este não se encaixa. Ao ir ao cinema esperava mais do que meninas demoníacas com longos cabelos pretos sobre a cara, um roteiro raso, atores péssimos, uma direção irregular e um exagero sádico por mostrar cenas sanguinolentamente desnecessárias.
Mas seria injusto condena-lo ao ostracismo e rotula-lo como “Trash” pois não é o caso. Agora que já falei dos defeitos posso me concentrar em suas qualidade. Após ler essa última parte fico ainda mais decepcionado, pois vejo um enorme desperdício de potencial.
Gostaria de dizer que a ambientação é excelente, mas ela é resultado do incrível trabalho de Carol Spier no design. A cidade de Silent Hill é soberba, enevoada, coberta de cinzas e sempre assustadora, ainda mais quando temos sua perspectiva infernal. Apesar das transformações que seguem o toque da sirene serem desnecessárias o visual da Dark Silent Hill é ainda mais arrepiante. Qualquer pessoa presa em um lugar desses enlouqueceria como ocorre com personagens.
Os monstros são espetaculares, assustam não apenas com seu aspecto nauseante, mas também por seus rostos sem face e movimentos erráticos que dão um sentimento de dor e sofrimento, como se todos fossem almas aprisionadas naqueles corpos decadentes. Toda a cena em que somos apresentados a um novo tipo assustador é um show à parte. Temos um zelador com a cabeça e as pernas amarradas com arame farpado, enfermeiras desfiguradas, crianças queimando eternamente, um carrasco com elmo de pirâmide entre outros. Nesse sentido o fascínio do diretor pelo visual e pelo material original ajudou a criar uma ligação que qualquer pessoa que tenha visto o jogo por mais do que quinze minutos reconheceria e que não jogou com certeza se surpreenderá.
Repare como a roupa da Rose vai escurecendo durante a projeção, foram usadas mais de 100 vestimentas diferentes para fazer esse efeito de modo sutil, é esse tipo de cuidado que permeia toda a estética de “Terror em Silent Hill”.
Os efeitos especiais são irregulares, em alguns momentos são geniais funcionando muito bem na escuridão da Dark Silent Hill
Existe mais uma característica que considero um defeito grave, que é a superexposição da platéia ao sadismo do diretor, a fotografia de Dan Laustsen é muito eficaz se esta era a intenção, e ela funciona claustrofóbicamente bem durante toda a projeção. Existe um uso exagerado de sangue por todos os lados, como em Kill Bill, em ambos os casos é possível escutar risos na sala de exibição a diferença era que esta era a intenção do filme do Tarantino. Pensei que o diretor havia aprendido com o seu ótimo Pacto dos Lobos que não mostrar às vezes é mais assustador que mostrar. Veja a cena do corpo no banheiro, ela funciona bem, pois nunca temos uma cena panorâmica ou em detalhes, vemos uma mão, vemos a cabeça, mas nunca o corpo inteiro, assim o impacto de vermos o corpo inteiro mais adiante na projeção é muito maior. Infelizmente esta boa cena é exceção, em todas as outras somos apresentados ao lado mais grotesco que nos elimina qualquer possibilidade de deixar nossa imaginação trabalhar, ela geralmente é muito mais assustadora que qualquer coisa que os cineastas conseguem colocar na tela. Apesar de algumas pessoas poderem gostar do modo ultraviolento em que são apresentadas as mortes com muito sangue e tripas (como em “O Albergue” e “Premonição” e suas continuações), a maioria achará ofensivo no mínimo e possivelmente sairá com uma sensação de repulsa caso tenha um estômago mais fraco.
O destino final sobre o destino de Rose, Sharon e Alessa é muito interessante evitando o tradicional fim bobo que normalmente acontece em Hollywood.
Assim para aprecia-lo se deve esquecer qualquer presunção sobre a trama, pois ela só atrapalha os aspectos técnicos e visuais, que é onde está o melhor da exibição. Infelizmente não posso relevar os aspectos em que a película peca, mas ainda assim se você não se assusta com cenas fortes e quer ver um filme de terror este é infinitamente melhor que a qualquer um do gênero lançado este ano e merece uma conferida, nem que seja só para admirar o visual, mas se tiver uma chance o jogo é bem melhor. Já se você tem um estômago fraco ou procura algo com mais conteúdo deveria ficar longe deste filme, ou de qualquer um do gênero por assim dizer.

5/10

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