Friday, July 14, 2006

É

É verdade, devo reconhecer que meu passado, minha infância foi em grande parte uma infância nerd, recheada de clichês do gênero. Mas também é verdade que isto é passado e que minha falta de direção anterior foram radicalmente mudadas no presente. O ano de 2003 pode ser considerado o momento simbólico de mudança em minha personalidade e filosofia. Viajei para os Estados Unidos, enfrentei minha primeira crise séria no meu longo relacionamento com minha primeira namorada e junto com isso também estava desiludido com minha escolha de universidade. Apesar de não saber o que influenciou o que e qual destes eventos ocorreu primeiro. O fato é que em 2004 todas as sementes para minha mudança total já estavam lá. Parei de acreditar em uma míriade de idéias, passei a ter uma visão menos idealista, mais pessimista, humanista da história, e do mundo. Agora não era tão importante as leis da física mais sim como e por quem elas foram descobertas, foi o fim da crença em Verdades Universais, as quais combato ferozmente nos dias de hoje, também foi o começo de minhas rixas com toda e qualquer forma de crença sem raciocínio e sem provas como as religiões, também marginalmente influenciado por minha Ex. Marcou a nascimento de um homem mais pragmático, que foi passo a passo abandonando aquele universinho de adolescente e embarcando em um mundo adulto. Isso me assusta as vezes, foi minha última mudança significativa e já fazem 3 anos, sinto que não mudarei mais minhas opiniões até a loucura ou senilidade, o que ocorrer primeiro. Mas voltando a frase inicial deste texto, também abandonei a cultura nerd. Nunca fui um entusiasta fánatico dessa cultura, mas mesmo sem pensar fazia parte dela de corpo e alma, era um fã de Star Wars (ai meu deus) e lia mais livros de RPG do que tinha tempo de jogar. Hoje percebi algo que é fundamental para minha formação de ideias, as coisas boas são muito difíceis de achar. Isso pode parecer óbvio mas não é, não basta gostar de um livro pra encontrar outros bons deste mesmo autor, ou ler uma história em quadrinhos que goste e achar outra que vá gostar. Antes, do alto de meu estado juvenil eu acreditava que quanto mais afastado do status quo eu procurasse mas fácil seria encontrar algo decente. Mas a realidade é mais complicada, dentro de outra cultura geralmente encontramos a mesma densidade de qualidade que na sua própria, mesmo que a roupagem seja mais agradável a voçê na qual está mais familiarizado. Isto também diz o quanto minha crença anterior era desumanizada, eu achava que dentro da literatura por exemplo haviam mais obras interessantes que no cinema mas não é o gênero de arte que define sua qualidade e sim o talento das pessoas e este em geral é similar independente do meio. Pode parecer audacioso mas tente ver que prodígios existem em todos os lugares, se por ano são lançados 10.000 livros, 1.000 filmes e 100 peças de teatro, poderiamos ter 973 livros excepcionais, 86 filmes maravilhosos e 17 peças de teatro excepcionais, eses números são apenas demonstrativos mas quero monstrar que mesmo tendo mais livros bons que filmes a porcentagem é parecida. Pra mim se deve olhar para o mundo com foco nas pessoas que o fazem assim. Me estendi em tudo isso apenas para dizer que percebi que por mais que gostasse muito de quadrinhos, apenas 1 em cada 50 me atraiam, que por mais que gostasse de cinema e achasse uns 5 filmes bons isso era depois de ver uns 200 filmes. Assim aprendi a selecionar muito mais o que vejo, mas também reafirmei minha vontade de conhecer novas formas de arte. Assim abandonei a minha cultura juvenil e embarquei numa viagem mais audaciosas por temas mais complexos, mais reais, pragmáticos, filosóficos. Isso também ajudou a me transformar numa pessoa com menos sonhos, mais pessimista, penso se tem que ser assim. Não conseguiria ter uma conversa coerente com o meu EU de alguns anos atrás. E meu EU passado nem reconheceria a pessoa que me tornei, penso se não envelheci rápido demais. Após muitos anos de separação estou tendo um reencontro com meu passado, agora com um senso crítico muito mais apurado posso voltar nas obras que tanto gostava anteriormente e lançar uma nova luz e ver se sobrevivem a esse novo olhar. Alan Moore passou no teste, Star Wars, não.

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