Sunday, July 02, 2006

A união entre o Sagrado e o Profano

Inicialmente podemos analisar a arte separando em duas categorias, a popular e a underground, esta última apreciada pelos conhecedores enquanto a outra sempre destruída pelos críticos mas aclamada popularmente,atingindo milhares de pessoas e enriquecendo seus criadores.
Pode parecer que estou rebaixando a arte popular a segundo plano quando na verdade coloco um problema a arte erudita, que apesar de apreciada permanece geralmente impopular, assim não atingindo o grande público apesar de influenciar o paradigma de formas mais sutis. Acho que existe espaço para ambas formas de expressão, ambas tem seu nicho no mundo artístico, entreter ou influenciar pensamentos.

Entrem os que tem pretensões puramente artísticas poucos são notados. Ao fazer algo mirando a grande massa se deve ter em mente as limitações intelectuais e culturais de todos que tentarem ter acesso ao que o autor quer passar. É isso o que a maioria dos artistas não faz, criam para si mesmos, ou para um grupo limitado altamente intelectualizado. Não que isso seja errado, é necessário fazer discussões de alto nível mas atingem diretamente um número reduzido de pessoas. É muito difícil se fazer entender, essa é a questão fundamental da pedagogia e infelizmente é o que mais falta em alguns artistas absolutamente geniais, alguns filósofos influenciaram o mundo sendo lidos por uma porcentagem ínfima da população, mas até hoje intelectuais discutem o que eles quiseram dizer em seus textos. Não importa o quão complicado seja o assunto, se poucas pessoas conseguiram entender, isto é uma falha grave. Existe um valor em uma obra alternativa, profunda e cultural mas ele está fechado para o mundo, escondido num mar de complexidade inacessível ao povo. O objetivo do erudito geralmente envolve uma mensagem, quer passar alguma coisa, deixar algo dentro do espectador. Mesmo que seja para poucos existe um prazer sublime na apreciação da arte, ela entretem sua seleta audiência de outro modo, mas infelizmente, na maioria das vezes não cativa o público.

Os advogados da arte popular (como vários péssimos atores da rede Globo)dizem que o grande benefício é fazer a maioria de seus espectadores mais felizes, entretem suas vidas tristes. De fato existe um valor em cativar o público, essa é uma das funções. Afinal se a televisão, cinema e música fossem uma indústria predominatemente cultural seria chamada de Indústria da Cultura e não Indústria do Entretenimento. Ainda costumam comentar que são esses produtos populares que permitem a existência de uma indústria mais erudita, mesmo que underground, que o fato de existir um Star Wars:Episódio 3: A Vingança dos Siths permite a produção de um Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci, não vou discutir esse pobre e infeliz argumento. Discordo amargamente dessa conlusão, mas ainda que isso seja verdadeiro, fazer algo acessível é necessário mas o fazer acessível não pode ser o objetivo final de uma obra. Infelizmente é isso que ocorre, logo temos centenas de obras que nada acrescentam ao mundo além de papel, barulho e filme.

Já é possível enxergar as diferenças entre essas idéias, poderia-se levar a arte ao povo ou elevar o nível das obras populares mas quero algo mais pragmático e imediatista. Apreciada pelos críticos, moldando pensamentos, fazendo pensar e ainda atingindo todas as classes intelectuais sendo populares, algumas obras conseguem ser. Claro que irão lhe faltar a profundidade de um projeto mais complexo mas ainda é perfeitamente aceitável se levarmos em conta o número de pessoas atingidas. Apenas para citar algums exemplos do que considero terem sido bem sucedidos nesse quesito: Matrix, primeiras temporadas dos Simpsons, Seinfeld, Senhor das Armas, Shakespeare e claro que isso também se aplica a música e artes plásticas mas como não sou entendido não vou opinar. Criadores andando na linha entre dois mundos percebem que essas realidades não são tão separadas quanto parecem, pode-se ser relativamente popular e ainda ser marginalmente erudito, resolver dois problemas. Levam uma complexidade aonde não havia e popularizam idéias que possivelmente nunca chegariam a grande massa. Essas preciosidades muitas vezes sofrem por tentarem agradar a todos, recebem críticas mornas e vendas amenas não chamando a muito a atenção de ambos os lados, os quais não percebem isso como uma tentativa de criar um elo de ligação entre dois paradigmas, criando outro.

Ao se fazer uma obra que consiga agradar a críticos acadêmicos e populares, o autor precisa mesclar gostos, colocar complexidade em situaçòes simples, no caso de mesmo que os eruditos não apreciem o ato em si, gostem a idéia por trás, e mesmo que o povo não entenda a idéia por trás, goste do ato em si.

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