Friday, July 28, 2006

Pirates of the Caribbean 2: Dead Man's Chest


Continuação de um filme sobre uma atração de um parque temático, o qual tem como tema piratas. Esse gênero capa e espada nunca emplacou um BlockBuster, desde a década de 60 que um filme não dá certo. Sempre que um produtor tenta desenterrar essa ambientação da era de ouro de cinema se depara com um prejuízo incrível, o qual desestimula toda a indústria voltar a ele.
O que me impressiona nisso tudo é que esse gênero de aventura tem todo o romantismo e carisma pra dar certo em Hollywood, mas por incompetência (e as vezes azar também) os filmes acabam por não atingir o público.
Por isso o “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”(o primeiro) foi um feito e tanto, abriu caminho pra esse tema tão próprio da industria do entretenimento e tão mal conduzido. Mas não pense que o filme é revolucionário per si, na realidade ele só acerta nas partes que não podia falhar e assim conseguiu encher uma sala de cinema com risadas e aventuras por duas horas. Conseguiram isso com um roteiro despretensioso, mas interessante, boas reviravoltas, atuações inspiradas (principalmente do... a você sabe, todo mundo fala dele), um bom diretor, ótimos efeitos especiais, uma boa fotografia, um bom design, ou seja, aspectos técnicos impecáveis, claro, o mínimo que se espera de uma superprodução hoje em dia.O que mais pode se esperar de um filme? Muita coisa na verdade, mas o aspecto artístico não faz os olhos dos produtores brilharem como pilhas de notas de dólares.
Mas e quanto ao “Piratas do Caribe: O Baú da Morte” (o segundo)? Por isso me estendi tanto falando do primeiro, esse filme consegue acertar nos mesmos pontos que seu predecessor. Como já disse este filme faz o básico pra dar certo, o que já é mais que a maioria dos filmes de verão de Hollywood.
A trama gira em torno de uma dívida do capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) que acaba envolvendo seus dois parceiros dos filmes anteriores, Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley). Assim eles precisam lutar contra canibais, um pirata mutante mágico lendário (Bill Nighy), um mal intencionado agente da Companhia das Índias Orientais (Jonathan Pryce) entre outros.
As atuações estão no nível das superproduções, o que não é bom, mas temos alguns que se sobressaem magistralmente. Preciso falar sobre aquele cara como todo mundo? Sim ele consegue de novo criar um personagem diferente, que foge ao lugar comum, e são sempre louváveis as raras vezes em que temos um protagonista diferente do mocinho de Hollywood, um pirata amoral então nem se fala. Também gostei muito da Naomi Harris que interpreta uma bruxa dando um ar sombrio e misterioso perfeito nas poucas cenas em que aparece. Outro que se destaca é Bill Nighy, sempre gostei do jeito estranho dele, os quais funcionam perfeitamente para esse papel e fiquei chocado ao descobrir que seu personagem havia sido totalmente criado por computação gráfica. Se os efeitos especiais já haviam me impressionado ao longo da projeção, ao constatar a perfeição sem igual dada ao vilão Davy Jones e o modo como conseguiram mostrar todos os maneirismos da interpretação do ator me da vontade de explodir o Oscar se não os presentearem nessa categoria. Todos os outros atores são burocráticos no máximo, tendo inclusive um casal muito fraco como protagonistas do filme. Com personagens fracos é difícil fazer mágica, ainda mais se comparados ao Sr. Depp e ao Sr. Nighy, mas mesmo assim a atuação desses dois é fraca.
Os efeitos especiais do filme são excelentes como era de se esperar, temos cenas magníficas, animais gigantes, barcos fantásticos e todos impecáveis. Com certeza terá ao menos uma cena que você achará incrível ao vê-lo.
O design do filme também é esplendoroso, desde o visual da cidade dos piratas e suas roupas, a tribo canibal, as vestimentas de época, a maquiagem irreprimível e ao extravagante visual dos barcos. A parte mais impressionante com certeza é a tripulação de Davy Jones, seres mutantes meio animais, todos com detalhes impressionantes e uma inventividade que chama a atenção. Devo apenas ressaltar que apesar de ter gostado bastante do visual destes vilões acho que ficaram por demais asquerosos para um filme de férias que planeja atingir diversas faixas etárias e sexos.
Vamos agora ao que menos importa num filme diversão desses, que é o fiapo de roteiro. Na realidade apesar de ser inexpressível gostei do texto. Normalmente os filmes de ação têm tramas cheias de fatos sem explicação, absurdos lógicos e furos lamentáveis, enquanto este filme consegue ser bem amarrado e estruturado, coisa rara. Mas com certeza não é irreprimível. Antes devo adiantar que a maioria da trama se completa no decorrer das duas horas e pouco de duração, mas os últimos dez minutos do filme servem apenas para preparar pontas soltas para continuação “At World’s End” que foi gravada em conjunto e que fecha a trilogia. Não que isso atrapalhe o andamento, mas deixa com água na boca se você gostou do filme e um nó na garganta se você não gostou.
Na primeira cena temos nosso capitão se salvando por um triz de uma arriscada missão, sua tripulação pergunta qual a causa daquilo e ele lhes responde que foi por causa de um papel com uma chave desenhada. A tripulação de um navio pirata pode não ser muito esperta, mas infelizmente a audiência desse filme não o é (espero). Você fica esperando que aquilo sirva pra alguma coisa, mas logo descobrimos que era para o que aparentemente servia, ou seja, nada. Mas este é apenas um detalhe e não atrapalha em nada o filme, tem problemas maiores.
Lembra da cena com os canibais que comentei? Pois é, ela é bem feita e muito divertida, com certeza você terá boas risadas ao vê-la. O problema é que ela só faz isso, é completamente descartável para a trama principal. Fala-se tanto em versões estendidas em DVD, podiam fazer uma versão reduzida sem toda essa sub-trama com canibais. Seria ao menos trinta minutos mais curta e ninguém notaria que meia hora do filme foi cortada, é quase como fossemos para aquela ilha apenas para nos divertirmos com os nativos enquanto o vilão espera do lado de fora, e voltamos a trama principal.
Espero não estar sendo áspero demais, ambas as cenas são muito boas e mesmo que não ajudem no desenvolver do filme geram situações excelentes para divertir, pena que sejam tão desconexas. Até consigo me colocar no lugar do diretor, imagine que você tem uma idéia genial com canibais, mas isto não tem nada, mas nada mesmo, haver com o filme. Problema? Não! Enfia essa cena em algum lugar, em alguma ilha perdida e pronto, você tem trinta minutos a mais de diversão! Nunca se deve se preocupar com estes detalhes insignificantes que esbarram com nossas idéias maravilhosas, detalhes estes como o roteiro. Se a cena fosse ruim seria o suficiente pra eu execrar o filme, mas é boa, então está perdoado.
O filme sofre diversas vezes com essa falta de nexo entre uma cena e outra, adoraria destruir a produção por isto, mas (in)felizmente todas as cenas são muito boas e atingem seu objetivo principal, que é divertir, pena que as vezes só pareçam fazer parte da mesma película porque aquele ator esta com a mesma roupa que na cena anterior. É quase tão coeso quanto os quadros do Zorra Total, ou da Praça é Nossa, se você tirar umas três cenas seguidas ninguém vai notar.
Num filme com muito mais altos e baixos como este posso me dar ao luxo de escolher algumas cenas magistralmente feitas, e outras mal elaboradas. A fotografia do filme é bem feita, ressaltando os majestosos efeitos especiais com eficiência, em especial a cena em que câmera segue o giro da roda de um moinho de água com três piratas duelando dentro. A ótima cena de uma luta de espadas naquela igreja abandonada (O que essa igreja faz aqui? Porque estão lutando dentro dela? Existe algum motivo pra essa cena estar acontecendo alem de criar um visual legal?). Diversas cenas da asquerosa tripulação de Davy Jones e o próprio. Quando Jack Sparrow mostra que o capitão é o primeiro a abandonar o navio. Existem poucas cenas que me incomodaram por sua idiotice, mas o modo como Will consegue o objeto de perseguição do filme todo é por demais cômico mesmo pra um filme fantástico como este. Também vi uma falta de timing ao revelar a aparência de Davy Jones e sua tripulação. Outro aspecto que me desagradou muito foi o pai de Will, gostei da atuação Stellan Skarsgård , o problema é que os autores tentam vender em alguns momentos um tipo de sofrimento familiar entre a relação pai e filho deles, o que é no mínimo apelativo demais pois eles se conheceram a cinco minutos e não tem qualquer tipo de ligação que não seja a sanguínea. Imagine que não conheça seus pais, e o encontre deformado servindo de grumete em uma tripulação de um pirata demoníaco.
O filme também é superficial em diversos pontos, faltando uma explicação mais aprofundada, mas isso é quase bom e normal nesses filmes recheados de misticismos, se no filme anterior era uma maldição asteca, qual é a razão dos poderes dos personagens deste? A resposta parece ser porque são personagens de um filme.
Mas no geral é um filme de diversão despropositada quase perfeito, tem tudo lá, personagens interessantes, cenas inspiradas, boas risadas, excelente ambientação, visual primoroso e fantásticos aspectos técnicos. Sofre um pouco no roteiro, e nas atuações, mas ambos funcionam a contento, apenas não se destacam. Um ator medíocre ali, mas é compensado pela ótima atuação de um outro. Uma cena sem nexo ali, mas é compensado por sua inventividade e diversão. Um bom filme de ação, feito de forma inspirada, com tudo de bom da produção anterior, ou seja, divertido e nada mais. Mas também, o que mais pode se esperar de um filme?

7/10

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